Coluna MND — Não há saída para a democracia brasileira sem a energia das mulheres negras

O ano de 2021 foi desafiador, mas também com muitas ações importantes do movimento de mulheres negras no caminho para avançar no fortalecimento da nossa democracia e no projeto de país possível nos próximos anos. Além de toda resistência ao atual (des)governo, combate à pandemia e defesa de direitos.

Em janeiro tivemos a primeira brasileira vacinada, Mônica Calazans, mulher negra e profissional de saúde. Foi um capítulo novo de esperança para diminuir os efeitos e os impactos causados pela covid-19 no Brasil, tudo graças à ciência e à mobilização da sociedade civil em defesa da saúde e da efetividade da vacinação em todas e todos nós.

Em fevereiro, tivemos um dia estadual de mobilização para enfrentamento da covid-19 nas favelas do Rio de Janeiro. Desde a nossa pesquisa Mulheres Negras Decidem — Para Onde Vamos, lançada em Junho de 2020, em parceria com o Instituto Marielle Franco, percebemos o protagonismo das mulheres negras na linha de frente dessas mobilizações frente à pandemia pensando saídas possíveis dessa grande crise.

O Mulheres Negras Decidem (MND) também abordou a identidade amazônida das mulheres negras para fortalecimento da ancestralidade, da luta e da união na construção histórica desses territórios, refletindo sobre a importância dessas lideranças levando em conta a crise que ocorreu no Amazonas e no Acre, em decorrência do agravamento da pandemia nessas regiões.

Em março, no 8M, reforçamos as diferentes lutas que estão sendo travadas na arena política, feitas por mulheres negras que se movimentam em busca de respeito e consideração para toda a população como Drica Monteiro e Benny Briolly, que vem sofrendo violência política inclusive com ameaças de morte o que já a levou a ter que desterritorializar sua atuação temporariamente. Além disso, em 14 de março a placa Marielle Franco foi eternizada em frente à Câmara Municipal impulsionando todo o legado e a semente que a Mari nos deixou!

Abril foi um mês de uma breve pausa para o MND, para incentivar ainda mais nosso autocuidado e valorizar nossas vidas e nossa saúde mental principalmente. Há tempo de enfrentar e de pausar para renovar as forças. Participamos também da campanha Caixa Aberta que tinha como objetivo cobrar a transparência de dados públicos mais precisos sobre a vacinação.

Em maio, o Brasil chegou à marca de mais de 400 mil mortos, com média móvel de 2.375 mortes por dia. Com isso, refletimos sobre a importância da CPI da covid e seus possíveis desdobramentos e investigações sobre as políticas públicas na pandemia.

Junho foi o momento do lançamento do nosso livro A Radical Imaginação Política das Mulheres Negras Brasileiras, uma coletânea de textos inéditos e não inéditos sobre a contribuição política das mulheres negras brasileiras nas últimas décadas. Acompanha-se escritos, entrevistas, projetos de leis e discursos de mulheres negras que dão as pistas do porquê de sua presença na política, pode significar mudanças na qualidade da nossa democracia e sociedade. Foi fruto da nossa parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo e o Instituto Marielle Franco.

A minissérie Para Onde Vamos foi um dos grandes marcos do nosso julho das pretas e retrata o movimento de mulheres negras no Brasil através da história de ativistas que estão liderando verdadeiras revoluções no modo de fazer e pensar políticas públicas no país. As ativistas são Anielle Franco (RJ), Áurea Carolina (MG), Elaine Nascimento (PI), Paula Beatriz (SP) e Vilma Reis (BA) e tudo só foi possível graças à parceria com o Instituto Marielle Franco, a coprodução com a FLUXA Filmes e o Canal Brasil e apoio da Open Society Foundations e do Fundo Baobá.

Em agosto, foi importante pautar que a reforma política não representa avanços visto que o distritão, sistema que adotaria votos majoritários para o Legislativo, dificulta que novas candidaturas sejam eleitas, manterá quem já está no poder, o financiamento mais que duplicou (partidos poderão receber até R$ 2 bilhões), mas é preciso acompanhar quem realmente se beneficiaria com isso, fim do mínimo de 30% de representatividade de gênero nos partidos e a falácia de que o voto impresso representaria mais transparência.

Francia Marquez, uma importante ativista ambiental e dos direitos humanos, advogada e integrante do movimento político “Soy Porque Somos”, lançou sua pré-candidatura à presidência na Colômbia em setembro. Ela representa uma liderança de mulheres negras na América Latina, que continua possibilitando caminhos para uma sociedade mais justa.

Em outubro, marchamos juntas contra o fascismo e promovemos encontros com coautoras do livro como Gabrielle Abreu, Deputada Taliria Petrone e Deputada Erica Malunguinho.

Novembro foi o mês de celebrar lideranças negras e de impulsionar o Conselho do MND para todas as novidades e ações estratégicas para 2022.

Por fim, agora neste mês perdemos bell hooks, grande intelectual e inspiração para o movimento, um aspecto que nos marca muito em sua escrita é o amor e o cuidado. O MND é um movimento que tem alicerce na narrativa para fortalecimento de mulheres negras e ela só poderá acontecer plenamente se houver afeto e cuidado umas com as outras. Por isso, acreditamos assim como bell que “o amor é uma combinação de cuidado, compromisso, conhecimento, responsabilidade, respeito e confiança.”

Nosso desejo é seguir nessa trajetória, atuando para o fortalecimento de nossa comunidade de articuladoras, parceiras, lideranças negras e organizações para trilhar um caminho com a energia das mulheres negras que potencializará nosso futuro e nossa esperança em 2022.

Texto por: Diana Mendes, Ana Carolina e Juliana Alves.

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